Se conheceram numa noite calma de verão. Ela muito tímida, ele extrovertido. Não poderia dar certo. A vontade que ele tinha de conhecer o mundo, era a dela de se esconder em casa. Ela era de poucos amigos, ele tinha vários que adorava visitar nas horas vagas. Os signos eram incompatíveis também, e ela gostava de comer pipoca na cama nas noites de sábado, que ele preferia curtir até amanhecer. Eles eram mais diferentes que "Eduardo e Mônica". Não poderia dar certo mesmo, tinha tudo para dar errado. Mas eles resolveram tentar mesmo assim, não havia motivos para serem a regra, eles queriam mesmo era ser a exceção.
Então continuaram se encontrando, a despeito de muitos que duvidavam. Até que um dia criaram coragem e deixaram escapar: EU TE AMO. A frase dita um pouco escondida entre os pingos de chuva e o medo de ser grande demais foi muito bem acolhida. Eles estavam felizes, estavam apaixonados.
Todos os dias se declaravam um ao outro, "te amo muito"-diziam antes de dormir-, como se fosse possível amar pouco. Mas eles eram discretos nesse amor enorme igual a Golias, aquele elefante imaginário do desenho "meu amigaozão". Só eles eram capazes de ver.
Isso não era um problema, era até melhor assim. Por que deveriam bradar aos ventos que se amam tanto? Divulgar amor não é amor, é status. Eles tinham mesmo que agir como sugeriu Cazuza, protegendo o nome por amor, em um codinome beija-flor. Ele achava até romântico, ter um romance só dele, livre da fofoca alheia. Um romance que só ele sabia a dimensão que tomava em seu peito, a vontade de fazer tudo diferente e ao mesmo tempo fazer tudo de novo e ter uma vida inteira para fazer tudo novo. Amar e amar e amar...
Uma vez um amigo me disse que não tinha rede social porque isso destrói relacionamento. Que ridículo, pensei, nada haver cara! Se o casal se respeita e se ama, uma rede social não tem como atrapalhar. Pois bem, eis que um dia aparece algo inesperado na rede. Ele respira fundo, liga para ela, diz que se sentiu ofendido e que não entende porque ela escreveu aquilo. Ela ri, diz que foi uma brincadeira. Ele relaxa "ah ok...Então apaga por favor, eu realmente não estou gostando do que estão dizendo lá."
Inesperadamente a resposta foi um não. Um não zombeteiro, que dançava na cara dele como uma passista de escola de samba. O "não" ria dele e cantava "ô abre alas que eu quero passar..." O "não" nem se importava com Golias triste ali atrás da tela do computador. O que ele ia fazer com Golias? Será que só ele via esse amor enorme que de tão grande precisou sair de dentro dele? Ele sempre controlou Golias, nada de deixar Golias se espalhar por aí; ele era grande, mas precisava ficar escondido como se fosse o beija-flor de Cazuza. O amor queria sair correndo e brincar, mas ele dizia que não, que era mais seguro ficar quietinho e sem fazer barulho. Ele não entendeu o "não", ele achava que o amor era respeito, era compreensão...O "não" desrespeitava ele, machucava, e agora o "não" ria e se divertia, dizendo que ou ele entrava na festa ou caía fora.
Então foi assim.
Se amavam muito, infinitamente, tanto que não cabia dentro do peito. Acabou tudo por causa de uma postagem em rede social. O amor foi embora sem ninguém ter visto. Ele ficou sem entender. Ela sumiu. Nunca mais se viram.
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